sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

Varginha à Canto dos Lohons 20 Km

Dados
Distância percorrida: 30 Km
Tempo decorrido: 6 horas
Nº de paradas: 3
Nº de cachoeiras: 3


Alexandre:
"Sem dúvida uma experiência muito agradável ao lado da natureza e de amigos.
Uma caminhada completa, com estrada de chão, asfalto e  dentro da mata. Um
exercício físico e pisicológico muito agradável (apesar das bolhas e assaduras).
Com certeza um caminho para se repetir."

Cicero:
"Sempre aspirei fazer uma longa caminhada (e o farei, com certeza, apenas não
posso postergar em demasia !). Essa primeira experiência foi deveras agradável,
seja pelo trajeto escolhido, de uma beleza singular, seja pelo Grupo em si. Curioso
foi já contar com um companheiro experiente, o qual muito me motivou com seu
inteligente texto sobre o uso de "cajado" nessas caminhadas. Como gosto de fazer
"barulho", mandei confeccionar as camisetas para que tivéssemos uma motivação
ainda maior. Agora é se preparar para um trajeto mais longo, algo acima dos 100
km"

Guto:
"Num mundo de rítmos tão frenéticos, com compromissos que nos absorvem todo
o dia,  sem que se possa perceber a beleza de um simples dia, seja ele de sol ou
com muitas chuvas, Caminhar é preciso...
Quando não tenho mais tempo para o grande encontro do meu "Eu" com o
"comigo mesmo", Caminhar é preciso...
Quando sou desafiado pela guerra do "Ter" com o pacado e sereno "Ser",
Caminhar é preciso...
Em qualquer jornada onde a velocidade, objetivos ou roteiros são meros
referenciais e não constituem objetivos em si mesmo, mas que sobretudo busca
desvendar que a beleza está no teu encontro, na descoberta de um "Eu" novinho
pronto para se manter atento e fora deste Mundo feito de miragens que chamamos
de realidade."

quinta-feira, 1 de janeiro de 2004

O PEREGRINO E SEU CAJADO


O PEREGRINO E SEU CAJADO

Bem ! Confesso que nunca gostei muito desse termo: "peregrino".
Explico: parece trazer uma conotação mística e religiosa que não se
coaduna com a liberdade, a singeleza, a alegria, a beleza do velho e o
simples caminhar, ou, como queiram, trekking.

Prefiro tratar de caminhadas em lugar de trekking. Parece melhor, é um
termo simples, acessível e nacional. Alias, bem nacional, se
considerarmos o grande potencial do Brasil: suas belas e diversas
paisagens e as características singulares do seu povo.

Etimológicamente, a questão esta explicada: lá vai o texto. É aquele lá do
título.

Eu e um amigo resolvemos fazer uma longa caminhada (160 km), seguindo
um possível destino, cujo roteiro era: saída de São José (SC); Colônia
Santana, Colônia Santa Teresa, São Pedro de Alcântara; Angelina, Garcia,
Major Gercino, São João Batista, Nova Trento (com escala em Madre
Paulina) e, finalmente, Azambuja em Brusque/SC.

A caminhada era desafiadora, longa e maravilhosa. Todo o caminho era
enfeitado pela diversidade que a natureza nos oferecia; as cores
exuberantes da vegetação, os lindos pássaros encontrados ao longo do
caminho... Este trajeto foi o escolhido, não só pela sua beleza mas,
indiscutivelmente, porque nos oferecia uma certa segurança, uma vez que
por ali - estradas secundárias - poucos carros transitavam.

Ao iniciarmos a caminhada, meu parceiro - um jovem senhor que já cruzou
 Santiago de Compostela por duas vezes, visitou as ruínas de
Machu-Picchu, entre outras trilhas fantásticas e também já cruzou as
trilhas da "Ilha da Magia" - Florianópolis/SC - do alto de sua experiência,
presenteou-me com um cajado. Isto mesmo! Um cajado, com o meu nome
e tudo. Confesso que o presente causou uma surpresa e um pensamento
um tanto quanto ingrato. Ora, para que serviria aquele pedaço de pau? E,
ainda, eu teria que carregá-lo por 160 km! Céus!!! Tomado por um
urbanismo exacerbado, agradeci o presente e nos pusemos a caminhar.
Pensei em dispensar o cajado logo nas primeiras horas, mas diante da
impossibilidade de fazê-lo sem cometer uma grande gafe e gerar um
enorme desconforto, continuei minha jornada incólume e resistindo à
primeira idéia.

Ao longo do tempo, enquanto cruzávamos um trecho de intenso
movimento de carros, notei que os motoristas, invariavelmente - talvez
movidos pela surpresa do nosso encontro, mantinham seus automóveis
quase encostando seus retrovisores esquerdos nos nossos frágeis corpos
 cansados. Em um dado momento, não sei bem quando, o cajado se
afastou do meu corpo, alargando minha Aura e pasmem: os carros
passaram a manter uma maior distância a partir dele.

Eureca ! Eis aí um bom motivo para se caminhar com um cajado, pensei !
Repeti o lance por várias vezes e constatei que os motoristas não se
incomodavam em nos atropelar, mas, daí a atropelar um cajado ! Ah, isso
não! Concluí que só por isso já estava valendo a pena exibir aquele lindo
apetrecho - meu cajado - quando de repente, um cachorro - daqueles
grandes, boiadeiros, do tipo Fila Brasileiro - resolveu armar uma corrida
mostrando os seus lindos caninos direcionados às minhas frágeis pernas.
Tudo bem ! Quem caminha com Deus estará sempre seguro. Quem é de
paz nada teme e, etc., mas o fato é que o cachorro estava chegando perto
e eu não conseguia perceber a presença sequer do anjo Gabriel ! Quase no
 desespero, entra em cena o meu salvador - talvez por inspiração ou
transpiração, sei lá - o meu cajado ! Bastou que eu o direcionasse à bela
fera e esta resolveu puxar o seu freio de mão de inopino, exibindo uma
manobra digna de um Rally. É ! O bichão parou e, simplesmente, latiu e
latiu. Senti o verdadeiro significado da expressão: "Enquanto os cães
latem a caravana passa !"

E passamos, seguimos nosso caminho. Deste momento em diante, assim
como um ser urbano necessita de um celular - ou pensa que necessita - o
cajado já me era imprescindível. Após a quarta hora de caminhada notei
que as minhas mãos já estavam bastante inchadas. Imediatamente lembrei
 do meu fiel escudeiro - o cajado. Sem pestanejar, lancei-o
transversalmente sobre as minhas costas, entre o corpo e a mochila,
formando-se um lindo e confortável varal para os meus braços. Bem no
alto, acima do meu coração e usando de toda a força da gravidade, eis
que, como presente, minhas mãos passaram a se "esvaziar", trazendo um
conforto extra para aquela etapa.

Sei que o tema parece ser bobo mas, sinceramente, espero que as lições,
quer de cunho prático ou filosófico, possam brotar nas suas fabulosas
cabeças. Até outro dia! Boa caminhada e obrigado, meu grande amigo,
pelo "Cajado". Valeu !

Texto escrito por Guto